17 setembro 2010

Amazônia | BR 319



Fernanda Preto/IPUMA

A BR 319 foi aberta no meio da Amazônia central entre os anos de 1972 e 1973 no período da ditadura militar no Brasil, no projeto de integrar a Amazônia, porém mesmo que tenha sido asfaltada ela nunca recebeu manutenção nos últimos 20 anos de sua existência. Dizem alguns moradores dessas terras que em alguns pontos a estrada até foi dinamitada.

Durante os dias em que estive fotografando para o projeto IPUMA pude perceber e entender o porque de tanta controvérsia no reativamento dessa BR de 880 km de extensão no meio da floresta.

Dentre os vários problemas, pode-se dizer que o desmatamento é a maior ameaça, porque ele não é controlável, o que leva a exploração ilegal da madeira, a caça, a pecuária prejudicando a biodiversidade da mata amazônica, assim como contribui para as alterações climáticas.

Embora não temos o conhecimento do que se passa ao longo da BR, existe bastante movimento de carros que se aventuram nessa travessia, alguns por necessidade e outros por pura aventura.

Neste projeto pude conhecer as áreas das reservas de desenvolvimento sustentáveis de Igapó Açu e Matupiri, onde está sendo feito o diagnóstico para a elaboração do plano de gestão da área.

Minha vivência nesses dias na BR, me fez lembrar um pensamento de Hans Jonas sobre a ética da responsabilidade, que diz que o próprio perigo que se prevê, os possíveis desfechos no futuro, a antecipação do impacto no planeta, as conseqüências na humanidade, isso pode orientar os princípios éticos e os deveres de novo poder, o poder sobre a natureza, onde só a previsão da desfiguração e autodestruição do homem nos ajuda a refletir sobre o que há que preservar e priorizar no homem, diante de tais perigos, e assumir uma posição ou decisão sobre o que se “possa querer”.

A sabemos o que está em jogo quando sabemos quem está em jogo.

E o que está em jogo é: o destino do homem; o conceito que possuímos dele; a sobrevivência física da Humanidade e do planeta; a integridade da sua essência. Tal nos reconduzirá ao conceito de responsabilidade.

Só porque temos a capacidade de alterar os modelos atmosféricos em grandes regiões da Terra e criar novas formas de vida, será que temos o direito de fazer tais coisas?

O problema não é o conhecimento por si só, é antes a aplicação que se lhe dá! Logo, a questão que subsiste para o futuro não tem tanto a ver com o desenvolvimento das próprias tecnologias, mas sim com a forma sábia de implementá-las nas nossas vidas.

Logo, esta nova ética, além de RESPONSABILIDADE, exige SABEDORIA, CONHECIMENTO e HUMILDADE. (Hans Jonas apud Ana Meirelles).

Um comentário:

  1. fiquei hipnotizada pela sua foto da ponte do rio negro... vários minutos (sei lá quanto) tanta coisa passa pela cabeça com essa imagem... tanto tempo em uma ponte, tanto significado... tentei mensurar a dimensão dessa ponte, mas... é tão estranha a sensação... violaram o rio negro, o rio que corre nas minhas veias, romperam a barreira.... UUrhg! que medo... mas, como dizem os ditados.... "uma imagem vale mais que mil palavras " e também "ainda tem muita água pra passar debaixo da ponte"....
    Thayná

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